Ele estaria envolvido em um suposto caso de desvio de recursos de fundos públicos destinados ao desenvolvimento de comunidades indígenas e rurais. O caso surgiu durante o governo do ex-presidente Evo Morales. À época, Arce era ministro da Economia e teria autorizado desembolsos de verbas estatais para contas privadas. Segundo Prada, Arce pode ter sido levado para uma prisão nos arredores de La Paz, capital boliviana.
Até o momento, não há estimativa oficial que atribua valores definitivos dos prejuízos ao ex-presidente que havia deixado o cargo há cerca de 1 mês para que Rodrigo Paz Pereira (Partido Democrata Cristão, centro-direita) assumisse. Paz derrotou Jorge “Tuto” Quiroga (Aliança Livre, direita) no 2º turno da eleição presidencial.
ENTENDA
O suposto escândalo de corrupção envolve o Fondioc (Fundo de Desenvolvimento para os Povos Indígenas, Originários e Comunidades Camponesas), criado para financiar projetos rurais a partir de parte do imposto sobre hidrocarbonetos. O fundo recebeu 3.197.482.681 bolivianos –nome da moeda local– de 2006 a 2016.
Relatórios oficiais apontam que somente 1.342.418.894 bolivianos foram desembolsados de 2008 a 2014, o que representaria cerca de 42% dos recursos.
A crise veio à tona em 2015, quando a Controladoria Geral do Estado identificou mais de 153 projetos inacabados ou inexistentes e um prejuízo inicial de 71 milhões. Ao converter para taxas atuais, 1 boliviano equivale a 0,79 real brasileiro.
Auditorias e investigações posteriores ampliaram o número de projetos suspeitos para mais de 1.000 e estimativas independentes sugerem perdas que variam —há cálculos de até US$ 182 milhões em perdas.
Relatos apontam que foram feitos desembolsos sem respaldo técnico, pagamentos em contas pessoais e aprovação de projetos sem documentação básica, o que põe em xeque a capacidade de controle da gestão pública.
O fundo era administrado por um conselho composto por representantes de vários ministérios e de organizações sociais vinculadas ao partido MAS (Movimiento al Socialismo), o que deveria assegurar participação indígena e camponesa, mas resultou em fragilidade institucional e discricionalidade na alocação de recursos.
Em 2015, o ex-diretor executivo Marco Antonio Aramayo denunciou a existência de “projetos fantasmas”, estouros de orçamento e desfalques sistemáticos, segundo informações do jornal local Opinión. Aramayo havia sido detido preventivamente e permaneceu preso por cerca de 7 anos. Em 2022, morreu em hospital de La Paz.
Em 2025, houve nova denúncia contra Arce com base em documentos que afirmam que ele integrava o conselho de administração do Fondioc e teria autorizado transferências de recursos sem justificativa enquanto era ministro da Economia (2006-2014).
Uma operação policial e da Felcc (Fuerza Especial de Lucha Contra el Crimen) em 3 de dezembro realizou buscas nas sedes do fundo em La Paz como parte das investigações sobre 8 projetos com suposto dano econômico.


